Me encontro deitado em um lugar diferente, me levanto, tiro a poeira da roupa e vejo uma pequena casa a minha frente, esta casa tem um formato triangular, dois andares, uma porta, duas janelas no primeiro e uma janela no segundo de forma que se assemelha a uma pequena pirâmide.
A casa está sozinha em meio a uma grande planície que parece tão profunda que nem mesmo olhando para todos os lados vejo algo fora aquele casebre. Aos poucos me aproximo dela e reparo que a medida que chego mais perto do edifício um nevoeiro de cor violeta começa a aparecer e tomar todo o ambiente; começo a sentir um desconforto em meu estômago e sinto como se tivesse usado um tipo de droga muito forte, tão forte que por um momento acredito que meu corpo esta prestes a expulsar as minhas vísceras.
Enfim, estou a poucos metros da casa, aquela planície vazia agora dá lugar a um grande conjunto de troncos de metal enferrujados que se assemelham a árvores e que rodeiam a pequena casa como uma grande floresta cinza, nesse momento, me pergunto se elas estavam a todo tempo ali, ou se são algum tipo de ilusão projetada por aquela névoa.
Ainda com dor no estômago, chego próximo a porta que se encontra entreaberta e observo uma sala vazia e muito escura com objetos antigos e empoeirados, que aparentam ter sido colocados lá a muito tempo atrás. A pouca iluminação vinha de um objeto, um pequeno anel que assemelhava-se a ouro, sua luz ilumina todo o ambiente como uma pequena vela, ele era dourado e continha uma frase em sua borda.
A frase dizia “não quebre”, e, quando estava para colocá-lo em um de meus dedos, alguém entra na sala, um ser grotesco semelhante a um ogro e coberto de joias da cabeça aos pés; quando visualiza o anel, ele me empurra com certa agressividade, o toma de mim e o coloca em seu dedo.
Nesse momento, escuto um estrondo, a casa começa a se destruir, seus objetos e seu segundo andar estão desmoronando aos poucos, e, quando acho que vamos ser soterrados, percebo que não sou afetado pelos destroços que caem, nem o ogro ganancioso, porém, parece que eu sou o único que vejo essa situação, o ser se encontra satisfeito admirando seu anel brilhante.
A casa então desaparece dando lugar a grandes espinhos de metal que percebo que são os troncos que vi de início ao lado da casa; nesse momento, a dor que era insuportável momentos antes se extingue e não existe mais névoa. Compreendo que a ilusão na realidade era a casa, e o anel devia ser a chave desta grande floresta que se apresentava a minha frente.
Seu escrito “não quebre” revelava que quem tomasse aquele anel teria um prazer inigualável por um tempo, porém, condenaria a si mesmo, uma vez que ele era a chave para a saída do lugar, e, no momento em que foi colocado em volta de um dos dedos sua função tinha se tornado obsoleta, como uma chave quebrada, de modo que o ser permaneceria naquele lugar por toda eternidade.
Saindo da grande floresta, olho para trás e percebo as árvores sumindo aos poucos, dando lugar aquela mesma casa novamente, como uma armadilha que atrai o coelho. Desta vez quase caí nessa arapuca, me pergunto se voltarei aqui novamente, e melhor, se resistirei a tentação em mais outra oportunidade.