Quando acordo, me encontro próximo a um portal, nele vejo diversas árvores e uma grande casa em seu meio, o lugar tem um cheiro forte de asas de anjo ou musgo podre; suas janelas são grandes e verticais e com uma luz amarela brilhante, tão brilhante que me sinto olhando diretamente para o sol quando volto meus olhos para ela.
A casa tem dois andares, um formato retangular e um pequeno arco acima de sua porta; a mesma está tão deteriorada que parece estar em conflito direto com a natureza em volta para se manter de pé ao longo dos tempos.
Sua porta é pequena e discreta e parece difícil abri-la por causa do grande cadeado que se encontra em volta de sua maçaneta.
Olhando mais ao fundo, temos alguns edifícios tombados que são semelhantes a torres e parecem finalmente terem cedido a força natural do lugar.
A impressão é que o local está vivo, chegando mais perto sinto a pulsação tanto da casa quanto do ambiente e me deparo com diversas raízes e musgos espalhados pelo chão.
Luto com muito esforço para chegar até a escadaria, que, quebrada, dificulta o meu acesso à porta que está sob o arco. Quando chego em frente a porta sinto um fedor indescritível e vejo uma pequena vela que se encontra diante de algo semelhante a um espelho, porém, em vez de apenas refleti-la, o espelho parece levar sua luz para todo o interior da casa amplificando a sua força e iluminando todo o ambiente.
Olho pela janela e vejo diversas criaturas, seu interior se encontra tão cheio delas que estes seres começam a se misturar uns com os outros em uma espécie de fusão esquisita, ainda vejo corpos retorcidos e o odor fétido a entrada estava explicado pelos dejetos e as criaturas que parecem estar a muito tempo ali.
Estes seres estão amarrados por uma fina linha de um material parecido com aço em um de seus braços e em uma das pernas, de forma que não estão realmente presos, porém, se quiserem se libertar, eles teriam de estar dispostos a sentir a dor de se livrar de dois de seus membros. Tento abrir a porta mas o cadeado me impede de entrar.
Pouco tempo depois, escuto a porta estremecer, aos poucos ela começa a se abrir. O que vejo é curioso, uma criatura abominável passa ao meu lado, cujo os um dos braços e uma das pernas haviam sido arrancados; seus ferimentos ainda abertos começavam a pintar o chão musgoso de um vermelho escarlate; a criatura se mantinha em pé por meio de uma bengala que se encontrava em seu único braço e ela se arrastava com dificuldade para fora da casa.
Em um momento ela se ajoelhou no chão da densa floresta e seu corpo começou a reagir ao ambiente, suas feridas começaram a cicatrizar e seu corpo ganhou um certo brilho; nessa hora senti uma espécie de frenesi, meus olhos, pretos como a noite começam a lacrimejar um líquido negro revelando um grande vazio branco, entendo o motivo de estar ali, deus me enviara naquele momento para presenciar essa cena.
Imediatamente levanto a minha mão e a enfio na carne ainda apodrecida daquele ser desprezível esmagando por completo seu coração e finalizando o que poderia ser o início de um ciclo de desequilíbrio.
Volto os meus olhos agora brancos para a porta, porém esta se encontra fechada, exatamente da mesma forma que estava no início; vou me embora com meu trabalho cumprido.