Sinto um aroma de cor rosa vindo de flores em um grande jardim; a minha frente, uma casa de dois andares e diversas plantas sinistras e bizarras que parecem grandes monstros com bicos de corvo, grandes olhos e ferrões de escorpião. O lugar conta ainda com árvores e raízes que se assemelham a restos de ossos, garras e espinhos que se espalham por todo o ambiente de forma que torna difícil andar sem se cortar com os seus detritos que são deixados no chão.
Onde deviam estar as portas e janelas se encontram grandes buracos escuros como a noite, não há sinal de vida, raízes caminham por todo o perímetro da casa produzindo flores que crescem por entre as suas paredes. Sinto uma sensação de perturbação, como se anjos estivessem ao meu lado, minhas pernas já se encontram cobertas de cortes provocados pelas plantas no ambiente, vejo uma mistura de cores, sons, cheiros e sentimentos me rodeando.
Uma aura que se assmelha a nuvens de cor amarelada começa a aparecer, essa aura encontra a saída dentro dos ferimentos espalhados pelo meu corpo, ferimentos esses provocados pelos detritos, e, a medida que me aproximo da casa ela fica mais pesada. Chegando no buraco onde deveria ficar o portão, tenho a sensação de carregar mais de duzentos quilos tornando quase impossível adentrar o local.
Entro na casa, suando do cansaço provocado pelo peso e me deparo com enormes prateleiras, se do lado de fora a casa parece velha e abandonada, o mesmo não se aplica ao seu interior; é uma grande sala que dá lugar a diversos corredores, luxosa e cheia de prateleiras e armários. O lugar é maior do lado de dentro e parece uma biblioteca, porém, onde se deveriam estar os livros, tem diversas coleções do que parecem ser pedaços de terra em cubos coloridos. Chego mais perto e vejo toda uma biodiversidade dentro destes cubos, como se fosse um pedaço do universo vivendo dentro de uma caixinha de vidro; o colorido era uma aura, semelhante a que me perseguia e que pesava como um planeta sobre minhas costas. Olhando mais observo um pequeno ponto se mexendo, parece ser uma criatura, que faz um esforço indescritível para se manter ajoelhada suportando o peso de sua enorme aura que cobre todo o cubo como uma espécie de fumaça de cor rosa.
No momento em que um réquiem começa a ser tocado entra na sala um ser etéreo com asas douradas, boca de lobo, olhos vermelhos e grandes garras de ferro, ele se aproxima de mim, olha ao redor da casa e, sem aviso, começa a destruir o lugar violentamente e voando como se estivesse procurando por algo.
Olho para seu corpo, parece estar intacto, pelo visto a criatura usara suas asas para passar pela floresta, e, por consequência, ignorado as armadilhas e conhecimentos do local de passagem. Ela parece desesperada, e, num surto de ira, começa uma verdadeira balbúrdia no ambiente, cacos de vidro e prateleiras quebradas para todos os lados., suas asas brilhantes batem desordenadamente provocando uma espécie de tufão que perpassa todo o lugar e causa uma tremenda destruição por toda a sala.
Não obtendo resultados, a criatura vem a mim, que observo atentamente seu olhar, sem pensar, estendo a minha mão como em um pedido, a criatura coloca uma de suas asas em cima dela, eu pego Stolas, uma pequena tesoura que guardo comigo e faço um leve corte em sua asa esquerda. Nesse momento, a aura que sai de dentro de seu corpo rapidamente se expande por todo o ambiente colorindo o lugar com um vermelho escarlate e esmagando a criatura com seu peso espantoso.
Então, como mágica, observo atentamente a massa da aura da criatura diminuir de tamanho, pouco a pouco, moendo o ser, que também diminui por consequência do atrito; pouco tempo depois se formara um terrário, exatamente igual aos outros que já estavam ali.
Volto meu olhar para a sala, intacta, com mais um item adicionado a sua coleção, como não era mais necessária a minha presença ali, vou me embora com meu dever cumprido.